O ENEM E O SINAL DOS TEMPOS

Quem diria que a pior semana para ser mulher no Brasil ainda teria alguma salvação? Depois da aprovação do projeto de lei 5069 (que dificulta o atendimento às mulheres grávidas vítimas de estupro e que de quebra ainda quer embairrerar a venda da pílula do dia seguinte, entre outros absurdos) e a apologia pública à pedofilia – ou seja lá como dar nome às barbaridades que foram ditas sobre a Valentina, a participante do Master Chef mirim, de apenas 12 anos – já tinha desistido. Mas nem tudo estava perdido… E a esperança veio de onde menos se esperava: o ENEM.

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Acordei tarde sempre ontem, e quando peguei no celular a internet já tinha explodido com o tema da sua redação: “a persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira“. Ênfase e palmas para o “persistência”, que já coibiu alguém de negar a sua existência. Como se não bastasse, ainda rolou uma questão sobre um trecho escrito por Simone de Beauvoir, escritora, filósofa e feminista francesa, também tratando a questão de gêneros.

harlem shake

Por que todo mundo celebrou? Não é porque pudemos imaginar muita gente retrógrada tendo que engolir suas próprias palavras para não se prejudicar na prova. Isso é apenas a cereja no topo do sundae. O que isso trouxe de melhor é que, enfim, o assunto vai passar a ser objeto de estudo nas escolas, cursos, livros e afins daqui para frente. E convenhamos, qualquer um que ao menos leia sobre o tópico não consegue mais negar que há um problema… É uma vitória!

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Já imaginou todas as crianças aprendendo na escola que papai e mamãe têm os mesmo direitos, deveres e atribuições? Não sou de me meter em política por aqui (tenho apreço pela minha paciência), mas preciso comentar que, se tanto o Bolsonaro quanto o Feliciano ficaram contrariados, devemos estar no caminho certo, rs. Parabéns e meu obrigada aos professores e ao MEC.

Um beijo especial para todos os candidatos que tiraram de letra esta redação,
Gabi

6 comentários em “O ENEM E O SINAL DOS TEMPOS”

  1. Confesso que me deu muita vontade de ter ido fazer ENEM esse ano quando vi o tema da redação, acho que todas as mulheres se sentiram representadas quando leram, esse ano machista literalmente não passará.

    E só pra explicar rapidinho, o projeto da lei 5069 foi aprovado apenas pelo CCJ por enquanto, ou seja a comissão não encontrou nada dentro da constituição que pudesse ir contra o projeto, ainda faltam muitas etapas pra isso realmente virar lei e é bem improvável que aconteça.

  2. clap clap clap!

    (na semana terrivel para as mulheres faltou mencionar tb as atrocidades ditas sobre o #meuprimeiroabuso)

    1. Mandy e Gabi

      É verdade… Acho que minha memória seletiva apagou. Muita atrocidade!
      Beijos,
      Gabi

  3. Oi Gabi,

    Primeiro lugar, agradeço muito à sua abertura para a discussão. Eu tô com uma coisa entalada na garganta faz tempo e encontrei um lugar pra pôr pra fora.

    Não vou nem comentar sobre o ENEM/feminismo em si, mas sim da repercussão, que é ilustrativa de algo que já acontece há um bom tempo.

    Eu tenho uma bronca terrível com todos os “ismos” da vida e com essas brigas de Internet. Acho que essa estratégia de “vou ficar enchendo o saco até você pensar como eu quero” não resolve nada, cria um antagonismo bobo e só deixa um lado com mais raiva do outro, uma competição de “quem tem o melhor argumento” que a meu ver pouco contribui para mudar os posicionamentos e atitudes das pessoas.

    Ufa, precisava desabafar! hahah

    Sou uma mãe, e confesso que eu realmente não gostaria que meus filhos aprendessem na escola que papai e mamãe têm os mesmo direitos, deveres e atribuições. Eu prefereria que eles viveesem isso em casa, na vizinhança, na comunidade em que estão inseridos antes mesmo de irem pra escola. Que não se tratasse de uma questão de discutir “teoria de gênero”, “feminismo/machismo/racismo” ou qualquer teorias sobre “o que devemos achar/não achar das pessoas”, mas que muito antes disso eles aprendessem a desenvolver relações de respeito, solidariedade e lealdade à mais cara essência que todos nós compartilhamos como seres humanos – quer sejamos quem somos. Acredito que vivências pessoais e relações são o que realmente nos transformam, não argumentos bem elaborados e raciocínio lógico. Eles até podem convencer, mas pouco mudam nossa essência.

    Sempre lembro da história de um colega que aos seus 7 anos de idade foi perguntado se ele tinha algum “amigo negro” – e seu melhor amigo tinha a pele escura. Ao que ele respondeu simplesmente “não”. Porque ele não tinha o olhar treinado a enfatizar diferenças como coisas muito significativas a ponto de criar uma nova categoria de ser humano.

    Pra mim, transformar gente de verdade e histórias de vidas – que poderiam nos sensibilizar e nos convidar a um olhar mais compreensivo – em estatísticas, conceitos frios e “teorias impessoais” que você “vai ter que engolir goela abaixo porque é isso que você deveria pensar” gera todo um movimento que mais “nos distancia apesar do que nos liga” ao invés de “nos ligar apesar do que nos ‘distancia’ “.

    As questões são muito mais complexas e mal-compreendidas do estão desenhadas.

    Obrigada pelo espaço Gabi!

    1. Mandy e Gabi

      Oi Naty!
      Podemos sempre reavaliar os métodos de debate.
      Este questionamento é muito saudável.
      Temos que estar abertos a mudar de ideia sempre.
      Quanto ao ensino nas escolas, eu celebro porque a gente sabe que não vai ser ensinado em todas as casas.
      Aos meus filhos, eu sei que não vai faltar exemplo neste departamento.
      Mas onde não houver, a escola vai suprir como puder.
      Nada substitui a família mas, quando ela falhar, temos que contar com a escola e o ambiente.
      Beijos e obrigada por enriquecer a discussão,
      Gabi

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